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Este artigo foi elaborado no âmbito da unidade curricular “Psicologia do Adulto e do Idoso”.

Escolhi este tema porque acho que os idosos cada vez mais são excluídos da nossa sociedade. Antigamente os idosos eram considerados uma fonte de conhecimento, hoje verifica-se a desvalorização dos mesmos.

Causas que contribuem para o sentimento de solidão nos idosos

 

Cristina Moreira[1]

 

“Se uma pessoa sentir quando está morrendo que, embora ainda viva, deixou de ter significado para os outros, essa pessoa está verdadeiramente só”

Norbert Elias (cit. Pais, 2007, p.4)

 

Resumo

Actualmente, podemos constatar um aumento do envelhecimento da população, porque existiu um progresso contínuo das ciências em geral e especificamente na medicina, aumentando a longevidade.

No entanto, o idoso continua a ser vítima de estereótipos principalmente pelos mais jovens, acabando muitas vezes por ficar de lado, sendo desvalorizado, isolado, com sofrimento, desamparado, negligenciado, entre outros.

Nos dias de hoje, são poucas as famílias que possuem a disponibilidade para o acompanhamento do envelhecimento dos seus familiares, por diversos factores que emergiram na nossa sociedade, o que contribui para o crescente número de idosos institucionalizados, mas não só estes sofrem de solidão, pois os que se encontram em casa também podem ter os mesmos sentimentos.

Segundo Barroso (2006, p.2) “a solidão e o abandono entre pessoas idosas são mais comuns do que se pensa, operando no conceito capitalista da sociedade.”

Esta situação que a sociedade é portadora pode conduzir às seguintes questões:

O que leva os familiares a institucionalizar o idoso e a privá-lo do relacionamento familiar?

Estarão as nossas instituições preparadas para atenuar o sentimento de abandono e solidão dos nossos idosos?

 

Introdução

O presente trabalho tem como objectivo analisar diferentes causas que conduzem à solidão, especificamente nos idosos.

Alguns estudos realçam os sentimentos de solidão na velhice e identificam as causas que levam à solidão, como sendo um processo acelerador para a depressão nos idosos, designadamente por precipitar os indivíduos ao isolamento social.

Procuraremos assim reflectir sobre as causas da solidão e até que ponto os idosos conseguem manter a qualidade de vida e dar continuidade aos seus projectos pessoais mesmo com este sentimento.

Palavras-Chave: causas da solidão, idosos, sentimentos. 

 

Solidão nos idosos

Num estudo conduzido por Barroso & Tapadinhas (2006), com quarenta idosos não institucionalizados e quarenta institucionalizados, com o fim de comparar a depressividade e sentimentos de solidão de acordo com o contexto habitacional dos idosos verificou-se, no que se refere aos sentimentos de solidão, que os idosos institucionalizados sofrem maiores níveis de solidão comparativamente com os que vivem em comunidade. Os idosos residentes em lares tendiam a sentir-se mais sós e insatisfeitos, afastados das suas redes sociais, com os dias monótonos e sem esperança ou investimento no futuro. Já os idosos a residir na comunidade se não tiverem o apoio adequado para a realização das tarefas do dia-a-dia e afecto, também acabam por ser invadidos pela solidão.

No entanto, este sentimento varia consoante os diferentes factores como: estado civil, imagem de preocupação familiar e contacto com amigos. De forma que os que indicaram mais sentimentos de solidão foram os que tinham menos contacto e preocupação de familiares e amigos, bem como os solteiros e divorciados.

De acordo com alguns autores como por exemplo King e Colaboradores. (2002, cit. Barroso, 2006, p.5) “a maioria dos idosos resiste à ideia de deixar a sua casa, mesmo face a uma realidade de declínio físico e incapacidade para viver de forma independente, sendo sentida como uma perda de identidade, é o seu espaço que fica para trás”. Assim, os sentimentos de solidão variam de acordo com o contexto habitacional onde se encontra o idoso. Contudo, não significa que pelo facto de se encontrarem nas suas casas não sejam vítimas de isolamento por parte de familiares e amigos.

Segundo Botelho (2001, cit. Barroso, 2006) tanto a perda de familiares como o seu afecto propicia isolamento e solidão. Barroso (2006) salienta também que os idosos que possuem uma percepção de maior preocupação por parte dos familiares e amigos mostram menos sentimentos de solidão. Então, entende-se que a falta de afecto e o abandono na velhice pode levar a um sentimento de tristeza e solidão, por vezes provocado por circunstâncias relativas a diminuições das capacidades físicas, que por sua vez levam a um distanciamento, podendo levar ao isolamento social.

Desta maneira com a perda de familiares e amigos, a solidão não só pode aumentar como provocar sentimentos de ansiedade face ás expectativas da morte. Para alguns autores, (cit. Barroso & Tapadinhas 2006, p.5) “a perda do cônjuge, de um amigo, familiar ou colega, pode provocar ansiedade na medida em que o idoso pode prever que a sua morte também se avizinha”.

As condições de vida, geralmente solitária da maioria dos nossos idosos, estabelecem-lhes à aceitação de limitações. Desta maneira, a solidão diminui no idoso a preocupação consigo mesmo, levando por vezes a uma má alimentação, tanto em qualidade como em quantidade. Assim, todos estes factores podem interferir amplamente, nos sentimentos dos idosos.

Apesar de necessitarmos de momentos para estar sozinhos, ninguém gosta de se sentir só, porque provoca desconforto emocional.

 

Solidão na Velhice “Reflexão de um Grupo de Idosos”

Num estudo realizado por Pedrozo e Portella (2003), de abordagem qualitativa sobre o significado da solidão, através da visão de um grupo de vinte idosos com mais de sessenta anos, onde dezassete eram mulheres e três homens. Cada participante expôs a sua ideia, experiência e sentimento sobre o significado de solidão.

Alguns dos idosos concede à solidão o sentido de “Aflição Emocional” (Pedrozo & Portella, 2003, p.174), “Eu sofro, às vezes, choro sozinha.” (Depoimento I). Assim, atenta-se que este tipo de sentimento nos idosos pode impedir um envelhecimento saudável e activo, acabando por se desmotivar e levá-lo a um estado depressivo.

Também neste estudo, foi citado por alguns idosos que a solidão lhes permite um encontro pessoal, digamos que uma reflexão sobre os acontecimentos passados na vida. A solidão é encarada, como algo que lhes permite tornar mais claras as ideias e acontecimentos passados.

No estudo elaborado por Barroso e Tapadinhas (2006), constatou-se que a perda de familiares e amigos é uma das causas de solidão nos idosos, também neste se identifica a mesma causa, vejamos como exemplo o seguinte depoimento citado por Pedrozo e Portella (2003, p.175) “Solidão para mim é a perda do companheiro”. Podemos assim concluir que as perdas dos entes queridos é um momento trágico, uma desilusão com a vida que pode causar não só sentimentos de solidão, como a perda do sentido vida.

 Para Frankl (1986, cit. Pedrozo & Portella, 2003, p. 175), “o sofrimento é tanto, que o ser humano, no momento em que está experimentando a dor da perda, não encontra razões para prosseguir ou dar andamento aos seus projectos, são momentos em que a vida parece não ter sentido.” No entanto, é importante perceber que nunca estamos totalmente entregues ao destino e que existem formas de ultrapassar, para isso é necessário que a pessoa lute, para não permanecer num estado de solidão que ocorre com a perda de pessoas queridas.

Também neste estudo, como em Barroso e Tapadinhas (2006), verificamos que não ter amigos leva alguns idosos à solidão, porque não ter ninguém com quem partilhar os momentos, angústias e alegrias, gera sentimento de insatisfação.

Por curiosidade, também existiram depoimentos que indicam o alcoolismo como uma das causas da solidão, conduzindo ao afastamento das pessoas mais próximas e alterando as relações sociais em que o idoso se encontra.

No que diz respeito ao “Ninho Vazio”, os sentimentos de solidão podem surgir no momento em que os filhos saem de casa, também o vazio deixado pelos netos quando crescem e seguem as suas vidas. Segundo Pedrozo e Portella (2003, p. 178), “a solidão é a consequência de uma vida vivida em função de outras vidas”. De facto, muitos vivem em função dos outros, e passam parte da vida sem valorizar a sua própria vida e quando se apercebem já estão em fase de declínio e pouco podem fazer para que os seus objectivos sejam realizados.

A passagem à reforma pode também contribuir para a solidão, porque muitos dos idosos não sabem como usar o tempo livre, diria mais, pode levar os idosos a sentirem-se inúteis e isolados do meio social porque existe um “corte” com as relações sociais. Neste sentido e segundo Guimarães (1998 cit. em Pedrozo & Portella, 2003, p.178 )  “com a chegada da aposentaria, tanto a vida familiar quanto a pessoal podem-se tornar dois presentes envenenados”, isto indica que os idosos após a passagem à reforma não estão preparados para reconstituir a sua vida. Também associado a esta situação está o baixo valor das pensões da reforma que podem ser uma das causas de solidão nos nossos idosos, uma vez que pode alterar a qualidade de vida e bem-estar, levando à pobreza e exclusão social, principalmente do grupo de amigos por terem baixo nível económico para participar nos convívios. 

Segundo Pais (2007), a solidão sente-se porque existe a necessidade do outro. Para os idosos é extremamente incómodo verificar que já não têm significado para os outros. De acordo com o autor, grande parte dos idosos é deixada em instituições pelos familiares e com o passar do tempo acabam por os abandonar. A família sem tempo e condições para tratar do idoso dá essa responsabilidade à instituição mas, nem sempre o idoso vê esta situação de forma positiva, uma vez que deixa de ter atenção e apoio familiar, pode ficar frustrado e leva a sentimentos de insegurança, instabilidade e solidão.

Algumas destas instituições isolam os idosos da vida, estes já não se sentem amados, úteis e capazes de continuar. Pais (2007, p.8), salienta que “a morte social ocorre geralmente quando se dá o internamento no lar, o trânsito para o piso dos fundos é a máxima expressão dessa morte social”. Desta maneira, podemos aqui deixar a seguinte questão: Serão as nossas instituições as primeiras a excluírem os nossos idosos?  

 

Conclusão

Podemos concluir, assim, que é importante que o idoso tenha uma velhice bem sucedida, com acompanhamento psicológico, apoio social e ocupação dos tempos livres. Estas estratégias podem diminuir o isolamento social. Apesar de ser uma fase menos activa do ciclo de vida, os idosos não têm que ficar inertes e sujeitar-se a um envelhecimento inconsciente e involuntário.

É importante apoiar a terceira idade, devendo existir uma interacção contínua com a família, para que permaneça no seu meio mais tempo, estimulando o idoso com reforços positivos para assim ultrapassar as barreiras que a terceira idade lhe apresenta. Só assim se poderá atenuar este sentimento que tanto afecta os idosos da nossa sociedade.

Quando o idoso se apercebe que a solidão é uma companhia, o rosto entristece, a alma apaga-se e uma forte pressão invade o pensamento. O dia-a-dia torna-se deprimente e o futuro sem esperança para continuar.

Tudo isto foi bastante perceptível em todos os estudos consultados, sendo unânime entre os vários autores que estes sentimentos têm origem nos factores acima indicados.

 
 


Bibliografia

 

Barroso, V. L & Tapadinhas, A. R. (2006). Órfãos Geriatras: Sentimentos de solidão e depressividade face ao envelhecimento – Estudo comparativo entre idosos institucionalizados e não institucionalizados. P. 171-183 Recuperado em 6 de Abril, 2008, de www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0091.pdf

 

 

 

Pais, J. M. (2007). Análise Sociológica da Solidão na Pessoa Idosa. P. 1-9 Recuperado em 3 de Abril, de 2008, de www.unifai.eu/files/active/1/Analise_sociologica_solidao.pdff

 

 

 

 

Pedrozo, S. K. & Portella, M. R. (2003). Solidão na velhice: Algumas reflexões a partir da compreensão de um grupo de idosos. P.1-13 Recuperado em 2 de Abril, 2008, de www.esp.rs.gov.br/img2/v17n2_19solidaoVelhice.pdff


[1] Aluna do 1º Ano do curso de Educação Social (pós-laboral)

Escola Superior de Educação – Instituto Politécnico do Porto.

Orientação: Dr.ª Carla Serrão. Mestre em Psicologia da Saúde.

Um rapaz de 12 anos apertou o pescoço a uma professora de Matemática na escola Bissaya Barreto, em Castanheira de Pêra, depois de a docente o ter advertido para parar de dar pontapés numa porta.O incidente ocorreu cerca das 13:10 de quinta-feira, quando a docente de matemática foi para a sala dar uma aula de substituição de informática. A professora advertiu o jovem, que provém de uma família desestruturada e apresenta sinais de hiperactividade, e este reagiu apertando-lhe o pescoço, injuriando-a e tentando dar-lhe um pontapé na face.

Segundo o presidente do Conselho Executivo, António Alves, o caso foi já sinalizado pela direcção mas falta ainda o relatório da professora.

“Houve qualquer coisa mas só me posso pronunciar depois de ter a exposição da professora”, disse o mesmo responsável, embora salientando que se trata de um “aluno difícil”.

No entanto, António Alves não esclareceu se o aluno irá ser punido disciplinarmente, tudo dependendo do relatório da docente.

Fonte da GNR confirmou a ocorrência mas negou que tenha sido apresentado qualquer queixa por parte da docente.

Fonte: JN

OLÁ, AMIGOS!

Bem vindos ao meu mundo…